segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

DESAFIOS E RECEIOS DA EDUCAÇÃO FORMAL INDIGENA NO BRASIL

 



Para a grande maioria dos povos indígenas, a transmissão dos saberes ancestrais acontece todos os dias na convivência dos povos nas aldeias, a grande escola de vida que prepara homens e mulheres para dar continuidade às tradições de seu povo. Porém desde que os primeiros europeus chegaram ao continente há mais de 500 anos, os povos indígenas que sobreviveram ao massacre físico foram vítimas de um tipo diferente de massacre: cultural e espiritual. As missões religiosas trouxeram novos modos de vida, novas crenças e hábitos a centenas de povos diferentes. Os jesuítas criaram escolas para civilizar e domesticar os índios. Até hoje, evangelistas principalmente norte-americanos traduzem o Novo Testamento em línguas indígenas, impondo suas crenças e modo de vida a essas populações.

Até pouco tempo, pensava-se que os povos indígenas deixariam de existir como culturas distintas e se integrariam à sociedade nacional. Isso começou a mudar no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 com a organização do movimento indígena e a Constituição. De acordo com a Constituição brasileira de 1988, o direito à terra e ao seu modo de vida, bem como à educação e capacitação diferenciadas, são garantidos por lei. Em 1991, a responsabilidade pela educação indígena formal foi transferida para a Fundação Nacional do Índio FUNAI, que chegou a um acordo com várias missões religiosas sobre a responsabilidade do MEC, e uma nova fase de resoluções e diretrizes do governo começou a tratar dessa complexa questão, com escolas em áreas indígenas.

Se o país já luta para educar uma população brasileira que fala a mesma língua e vive de forma mais ou menos parecida, imagine como seria lidar com uma diversidade de mais de 230 etnias, mais de cento e oitenta idiomas e realidades e expectativas muito distantes. Segundo o censo de 2008, cerca de 2.700 escolas indígenas nos 26 estados da Federação são reconhecidas no país, com mais de 2.500 alunos matriculados no ensino fundamental e médio. Mas como são essas escolas? onde eles estão? Como eles estão organizados? O que esses professores e alunos querem? Até o final dos anos 80, muitas comunidades aborígenes não tinham escolas formais e não queriam ter uma. A percepção deles sobre a educação formal é muito negativa, principalmente porque a educação recebida ainda está relacionada à missão religiosa.




Muitos pais não permitem que seus filhos frequentem a escola porque acreditavam que as salas de aula limitam as crianças a uma idade em que deveriam estar livres e com a família e amigos para aprender o básico da vida e das tradições. Como os professores não eram indígenas, eles não falavam a língua da aldeia. Desconheciam as tradições, os modos de vida e os ritmos comunitários. Esses pais temiam que seus filhos perdessem contato com sua cultura e valores, embora acreditassem que é importante que os jovens aprendam português e matemática para se comunicar com os brancos e proteger os interesses da comunidade. Muitas vezes, deixavam os filhos aos cuidados de amigos de confiança para que os filhos pudessem estudar na cidade, mas sempre sob supervisão de familiares e idosos da aldeia.
Hoje, formar índios como professores e gestores em escolas em terras indígenas é um dos principais desafios e prioridades na consolidação da educação escolar indígena pautada nos princípios da diferença, especificidade, bilinguismo e intercultural, e implementando os fundamentos da educação como ferramenta pela afirmação étnica e promoção de projetos voltados para a sustentabilidade das comunidades aldeãs por meio da formação de professores indígenas. Para ensinar, é preciso ter conhecimento dos temas abordados.




Dessa forma, é necessário que os professores não só das escolas indígenas, mas em geral tenham um conhecimento profundo dos povos indígenas, pois os livros didáticos falam muito pouco sobre os povos indígenas, a história de luta, os preconceitos, a determinação e as conquistas.
O universo educacional indígena se volta para a sua própria realidade, verificando que os professores possuem formação oferecida pelo governo estadual e que mesmo diante das dificuldades que emergem diariamente, a escola mantém um currículo diversificado voltado para a asserção étnica dos cursos, e busca por meio de mecanismos próprios, estudar ações que promovam o fortalecimento de sua cultura nativa.

Confira agora o podcast!

No podcast de hoje, vamos entrevistar Ymara (@

ymaraguajajara

) que é da aldeia buritirana de Grajaú-Maranhão, aldeia dos indígenas Guajajara. Ymara faz Cinema e Audiovisual na Universidade Federal do Pará. O objetivo dessa entrevista é tentar entender a importância das escolas indígenas sob o olhar dos povos indígenas.

https://soundcloud.com/user-646364957/entrevista-sobre-a-educacao

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

O NEGRO NO SÉCULO XIX SOB O OLHAR DE RUGENDAS


Trabalharemos aqui o uso fontes imagéticas para o ensino História indígena e afro-brasileira. Nele, discutiremos as relações culturais, sociais, econômicas e políticas dos grupos afro-brasileiros e indígenas. Trabalhando mais especificamente com as pinturas do artista Johann Moritz Rugendas, que colocam em destaque esses dois grupos em meio ao Brasil do início do século XIX.

Levando em conta o contexto da obrigatoriedade do ensino do ensino da história indígena e afro-brasileira para os alunos da educação básica (Leis 10.639/03 e 11.645/08). Essa deliberação decorre de uma necessidade de conhecer mais sobre os grupos, uma vez que eles e seus costumes fazem parte da cultura e da sociedade brasileira. Desta forma, a análise de imagens é uma forma muito rica de trabalhar a história indígena e afro-brasileira. Há um grande número de documentos imagéticos de diferentes abordagens, provenientes de diferentes regiões e de diferentes épocas, refletindo as características e situações vivenciadas por esses grupos. Em geral, as vantagens do uso de fontes iconográficas na classe vão além das possibilidades do documento textual comum e dão maior força para atravessar o abismo que existe entre a pesquisa acadêmica e a educação básica.

A palavra iconografia vem da palavra grega eikonographía, onde – eikon significa “imagem” e – graphía significa “descrição/escrita”; assim, etimologicamente, pode-se dizer que é uma descrição ou escrita sobre uma imagem. No entanto, o termo está intimamente relacionado à história da arte.

Neste estudo, escolhemos primeiramente um recorte temporal, o século XIX, com base na produção historiográfica, sabemos que nos primeiros séculos foram muitas as situações de representação: contato linguístico, expedições de exploração dentro do país, mercado de produção e circulação, o ciclo da riqueza, revoltas populares, guerras coloniais, escravidão, etc. Desta forma, por meio da iconografia, saber se, em determinadas imagens, alguma dessas situações surgiu como evidência histórica. Nos concentramos aqui apenas em um pintor e algumas de suas obras, afim de realizarmos uma análise mais qualitativa e detalhada das pinturas selecionadas.

Johann Moritz Rugendas


Foi um pintor alemão que visitou o Brasil duas vezes: Primeiro, como desenhista de uma missão científica liderada por Georg Heinrich von em 1821 Langsdorff (1774-1852), pouco depois, em 1845, para visitar um velho amigo, além disso, de alguma forma "curtir" seu sucesso entre a elite brasileira.

Em sua primeira visita, chegou ao Rio de Janeiro em 3 de março de 1822, e seu primeiro destino foi a Fazenda da Mandioca, localizada no interior do Rio de Janeiro, propriedade e reduto de Langsdorff para importantes pesquisas agrícolas. É de lá que surgem os primeiros trabalhos sobre escravidão e trabalho livre, e a vida cotidiana na cidade. Rugendas vê o Brasil muito além de sua flora e fauna "exóticas". Acompanhado por todo o frenesi político no Brasil desde setembro de 1822 Assistiu a uma realidade social desconhecida: cativeiro negro, navios negreiros, travessia desembarques de escravos, mercados de escravos, cenas de tortura e até registros da sensualidade das mulheres negras africanas em solo brasileiro.

Escravos de Cabinda, Quiloa, Rebola e Mina


Quatro diferentes nações compõem a prancha acima, estão representados: Cabinda, Quiloa, Rebola e Mina. Esta última se destaca pelos tatuagem em todo corpo. O negro Cabinda, cuja ilustração limita-se a cabeça também traz marcas no seu rosto. Já negra Rebolla, é a que aparenta ter mais idade. O intuito de utilizar esta ilustração é mostrar aos estudantes e discutir com eles a diversidade de povos africanos que foram trazidos para o Brasil como escravos.

Jogar Capoeira, 1835


Rugenda apresentou a cultura de negros e índios como minorias. Esta tela mostra uma luta de capoeira usada pelos negros para se defender. No entanto, essa luta teve que ser transformada em uma dança para que as autoridades não os oprimissem. A maioria dos que o faziam, encontrava-se trabalhando em áreas urbanas, vendendo seu trabalho e os produtos produzidos nas fazendas de seus senhores, mostra a madeira anterior, e que sua presença nas cidades era grande, assim como no campo. Essa tela também serve como ferramenta para o professor discutir com seus alunos sobre a cultura afro e as formas de resistência negra na sociedade escravista brasileira.

Casa dos Escravos


Com esta ilustração, podemos confrontar a ideia de que os escravos não tinham família, que todos os escravos estavam sujeitos a senzalas, onde eram amarrados sem vínculos, apenas liberados para o trabalho. Interessante abordamos o papel da mulher como dona de casa, falamos sobre as famílias escravas, estimulamos os alunos a terem consciência do que resta, da separação quando você vê uma mulher negra em um barraco e a Senhora da casa grande que é a proteção da peito de sua luxuosa casa. Através da obra discutirmos em sala que não era apenas a luta ou a fuga uma forma de resistência, mas havia certos "direitos" que eram obtidos através da luta, greves de fome, negociação e resistência. Entre esses direitos estão o direito de ter casa própria, folga ou fazenda para morar e, além disso, ter uma forma de obter sua liberdade.

Rua Direita, 1835


Nesta obra podemos ver o fluxo comercial na cidade do Rio de Janeiro. Os negros fazem vários trabalhos como carpintaria, sapataria, alfaiataria e até mesmo trabalham como marinheiros e vendas em geral. Esses negros que iam para as cidades eram obrigados a vender seus empregos ou produtos agrícolas para conseguir dinheiro em troca. No entanto, esse dinheiro foi destinado ao seu senhor, o escravo possui uma pequena parte desse capital. Ou ainda, muitos eram livres para vender seu trabalho na cidade, sob a condição de pagar uma certa quantia em dinheiro ao seu senhor. Foi com essa renda que, muitas vezes, poucos conseguiram comprar sua liberdade.


Negras do Rio de Janeiro 

Importante expormos imagens com a presença de mulheres nesta obra, vemos duas mulheres negras fazendo transação envolvendo a compra de adereços femininos. A que está em pé, comprando - uma negra vendedora de frutas - carrega filho às costas à maneira africana. A prática de carregar filho às costas era bastante disseminada na África e em toda Afro-América. Ela permitia à mulher negra - cuja família muitas vezes era composta por apenas mãe e filhos - ter mais autonomia em suas atividades cotidianas. 

De fato, a história contada através da iconografia nos traz muito sobre a cultura e o modo de vida, tanto dos escravos quanto da aristocracia brasileira do século XIX. Dessa forma, eles nos ensinam que uma obra de arte, não importa o que seja, é um texto que pode ser olhado em sala de aula, e interpretado de acordo com os valores e a moral da época em que foi produzida, pois acrescenta outro ponto de vista. Podemos concluir que Rugendas mostrou formas, beleza, cultura, trabalho, entre outras categorias, à sua maneira e que contribuiu à sua maneira para a preservação da memória e da história do Brasil.


 Confira agora o podcast!

No podcast de hoje vamos entrevistar a Professora da rede Municipal de ensino de Marilena, Irah de Assis, que é uma ativista do movimento negro da região. Falamos sobre a aplicabilidade da lei 10639/2003, sobre a importância das cotas raciais e também sobre alguns eventos realizados em Marilena que ela esteve a frente. 

https://soundcloud.app.goo.gl/Apcf1zk2zUdH8uwH6


segunda-feira, 29 de novembro de 2021

A PRESENÇA EUROPEIA NO CONTINENTE AFRICANO – COLONIZAÇÃO

 

Exploração Europeia na África. 


          Por um período na história, prevaleceu-se o pensamento de que a Europa, bem como os europeus, representava o estágio mais desenvolvido e avançado na “escala do desenvolvimento humano”. Ao decorrer do século XIX as ideias de evolução propagadas por Charles Darwin deram embasamento para que nações europeias promovessem campanhas de colonização em outros continentes, como Ásia e África. Além dessa ideologia de superioridade eurocêntrica, nesse contexto o capital necessitava de novos mercados, mão de obra barata (escrava) e fontes de fornecimento de matéria-prima. Então, para os europeus, as nações desses continentes representavam o estágio primitivo ou inferior na régua da evolução usada por eles. Toda essa configuração histórica, de um processo que violentou culturas e etnias além de corpos, ainda faz parte da estrutura econômica e da mentalidade de muitas nações, senão todas.

        Podemos entender que o contato dos europeus com o continente africano começa já no século XV quando os europeus avançam para aquele continente em busca de trocas comerciais. No século XV, com a chegada dos portugueses à África, a escravidão se avolumou e as guerras se multiplicaram. Alguns líderes africanos (príncipes e reis) desejavam armas de fogo para manter ou ampliar seu poder. Os europeus, por sua vez, desejavam escravos. Assim a troca de pessoas por suprimentos e armas era uma prática que acentuou a escravidão de pessoas. Iniciou-se, então, o tráfico humano, com o objetivo de conseguir prisioneiros para trocá-los por armas de fogo.

Em consequência desse contato entre o europeu com o continente africano, os europeus buscaram legitimar as suas ações imperialistas através da produção que, mesmo parecendo inocente, transmitia a sua ideologia neocolonial. Essa produção podia ser de livros, textos, panfletos ou até mesmo HQs. A exemplo disso temos a figura de Tintim em suas aventuras no Congo, colônia belga. Apesar de ser uma história em quadrinhos para crianças, transmitia intensamente a ideologia dos colonizadores, passando a ideia de que o povo era primitivo, atrasado, não era desenvolvido e que precisava de um herói para salva-los além de líderes para guia-los. Com isso, na colônia criou-se um retrato favorável às ideias colonialistas da Bélgica: o inocente povo africano precisa ser "salvo" pelos sábios europeus. O Zimbabwe, por exemplo, sempre foi um país governado por outro europeu. Durante um tempo por espanhóis e portugueses, mas os principais foram os britânicos na década de noventa do século XIX, tornando-se independente só em 1923. Esse país, como os outros, sofreu com muitas guerras, principalmente por uma minoria branca viver por ali devido a colonização e queriam simplesmente comandar e os negros não aceitavam. Em 1964, o Reino Unido concedeu a independência à Rodésia do Norte, com o nome de Zâmbia, mas a sua independência só foi reconhecida quinze anos depois, em 18 de abril de 1980, com o nome de Zimbabwe.



Grande Zimbabwe, extensas ruínas de pedra de uma cidade africana da Idade do Ferro.

Na faceta do capitalismo, o imperialismo neocolonial representa a luta entre classes na África, já que a sucessão de golpes de Estados reacionários, na África ocidental e central, e a eclosão de diversas guerras civis demonstram a natureza desse antagonismo e a relação existente entre os interesses neocoloniais e os da burguesia local.  O colonialismo, ao se inserir na sociedade, aboliu a propriedade comunal em proveito da propriedade privada fazendo com que as estruturas socioeconômicas dessas sociedades se dissolvessem fazendo com que as economias coloniais se ligassem ao mercado capitalista após essa dissolução.   

A Antropologia Cultural nos propicia a compreensão de que urge lutar contra essa herança estrutural do neocolonialismo visto que ela nos leva a estudar a cultura do outro, colocando em posição de inválido todos os argumentos usados pelos europeus para as suas ações citadas acima. Além disso, a História da África está ligada na corrida Imperialista - e a sua descendência por vários continentes, com o seu passado de expropriação, escravidão e violências - com uma História do Tempo Presente em que se apresenta parcelas significativas da sociedade arrastando as correntes de um racismo estrutural. Por exemplo, ainda há muitos monumentos na Bélgica que glorificam o passado de colonização belga, dispostos nos Parques de Antuérpia, Bruxelas e outras cidades da Bélgica - bem como em outras nações que submeteram o africano as violências da escravidão e domínio territorial -, a maioria desses documentos datam do período entre guerras (1914 a 1945), no auge da propaganda patriótica que gerou o nazifascismo. Isso salienta a necessidade dos movimentos contra o racismo e a violência ao negro as exigências de descolonização do espaço público bem como da mentalidade racista. 


Confira agora o podcast!

No podcast de hoje iremos falar sobre a colonização da África e suas consequências enraizadas até os dias atuais.



terça-feira, 31 de agosto de 2021

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA AFRICANA PARA O ENSINO DA HISTORIA DA ÁFRICA

 

“O estudo das obras do continente africano é um meio de corrigir o desvio eurocêntrico que anos de colonização cultural causaram em nosso olhar” (Carta Capital, 2014)

    Sabemos que no processo de ensino e aprendizagem sobre a história da África, são repassadas a nós muitas informações de cunho racista, preconceituoso e extremamente alienado. Muitos professores retratam a África como um lugar pobre e de miséria, e isso sempre foi repassado de geração para geração, mas a África é um continente formado por culturas diversas e que ainda é desconhecida por grande parte da população não só brasileira, mas mundial.

Foi preciso criar uma lei que pudesse garantir o respeito às culturas indígenas e afro-brasileiras, com o objetivo de corrigir mesmo que de forma mínima os equívocos, as inverdades e as brutalidades sobre a história da África.

A Literatura Africana surgiu com o movimento literário denominado Negritude, onde teve um papel revolucionário, rompendo com os valores impostos pela cultura eurocêntrica, apresentando textos e poesias inspiradas nas revoltas que possuíam caráter anticolonialista, tendo como inspiração os conflitos vividos na região, a beleza dos lugares que existem por lá e também o sofrimento social e político que a população passou/passa.

http://cinafrica.letras.ufrj.br/index.php/filmes/angola/127-ruy-duarte-de-carvalho
Ruy Duarte de Carvalho, escritor, cineasta e antropólogo angolano.

  

“Na relação do escritor com a sociedade, o que parece estar na base de qualquer reflexão é o entendimento daquilo que a sociedade espera do escritor, o que a sociedade lhe pede e em que termos e com que sentido o faz. Que pede a sociedade ao escritor? Pede-lhe que seja útil, e julgo que esta fórmula tem o mérito de simplificar o discurso, poupando-lhe redundâncias que quase sempre traem na objetividade e a verdadeira natureza da questão.” 

Essa afirmação de Ruy Duarte de Carvalho nos diz muito sobre a importância da literatura africana para conhecermos a multiplicidade da sociedade e da sua cultura, nas suas poesias encontramos a exposição de problemas, preocupações e situações vividas na Angola, sua poesia servia de denuncia, de arma de luta, de meio de combate contra as injustiças e incompreensões que seu povo vivia.


https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11022
A arma da casa, Nadine Gordimer
    

            "A arma da casa" é uma literatura de Nadine Gordimer, uma escritora sul africana, que retrata a vida de um casal classe média branca sul-africana tentando se reconstruir pós-apartheid, onde eles tem que reaprender a viver depois de tanto tempo convivendo em regime de segregação racial. As obras de Gordimer podem ser de extrema importância para os alunos do ensino fundamental e médio para compreenderem o que foi, e como foi, o Apartheid na Africa do Sul.

As Literaturas Africana vai além do que nos é retratado nos livros didáticos, então fazer essa leitura pode ajudar na reaproximação dos alunos com as culturas desse continente de modo rico e interessante, e cabe aos professores mostrar aos alunos a verdadeira história do continente através das literaturas escritas pelos próprios conterrâneos.


                                      Confira agora o podcast!

No podcast de hoje iremos falar sobre como foi o Apartheid na Africa do Sul, desde o seu início até o seu declínio, evidenciando pessoas que lutaram contra esse regime de segregação racial.

https://soundcloud.app.goo.gl/kKwYgoDLtCmzQQQ89




quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

VIAGEM PELO BRASIL - SPIX E MARTIUS

"América, essa nova parte do mundo apenas conhecida de poucos séculos atrás, tem sido, desde a época de seu descobrimento, objeto de admiração e predileção da Europa. A feliz situação, a fertilidade e diversidade do seu solo, atraem tanto colonos e negociantes, como pesquisadores científicos." (Spix & Martius, Viagem pelo Brasil, 1817-1820.)

A imperatriz Leopoldina desembarcou aos pés do Morro de São Bento em 6 de novembro de 1817. Artista amador, Frühbeck retratou o momento de forma menos suntuosa do que o clássico registro de Debret (Franz Joseph Fruhbeck/ Acervo IMS/Divulgação)

 A imagem é um retrato de Franz Joseph Frübeck, que veio para o Brasil junto com a princesa Leopoldina. A aquarela é a cena do Rio Colonial, de como ele se encontrava no momento da chegada da arquiduquesa Leopoldina quando desembarcou no Rio de Janeiro há 200 anos atrás.
 Leopoldina veio para o Brasil quando se casou com Pedro de Alcântara, futuro Imperador, esse casamento foi uma aliança estratégica entre a monarquia de Portugal e Áustria para fortalecer os ideais monárquicos absolutistas. Nessa época era normal os casamentos reais servirem como forma de apoio e interesses políticos e não guiados por sentimentos.  
Com a chegada de Leopoldina veio também com ela um conjunto de śabios e pesquisadores, sendo eles cientistas, botânicos, zoólogos e artistas europeus formando assim a Missão Austríaca. Essa expedição tinha o intuito de pesquisar a fundo a natureza brasileira, eles deveriam colecionar espécimes e fazer ilustrações de pessoas e paisagens para um museu que seria fundado em Viena. Essa Missão foi incentivada pela própria Leopoldina, pois desde muito nova ela sempre se mostrou muito interessada por ciências naturais.
Os interesses de pesquisar a fauna e a flora desse Novo mundo se iniciou após a publicação do livro - Viagem às Regiões Equinociais do Novo Continente, feita em 1799 a 1804 - do geógrafo alemão Alexander Von Humboldt (1769 - 1859). A característica principal de sua obra era a representação de tudo o que via da maneira mais detalhada que conseguia.
Entre os participantes da Missão estavam o botânico e médico Von Martius, o zoólogo Von Spix e o pintor Thomas Ender. Essa missão durou cerca de três anos e é considerada a maior expedição científica de exploração da fauna brasileira até hoje. O resultado dessas pesquisas foram publicadas no livro Viagem pelo Brasil de Martius e Spix.
Frübeck expôs seus desenhos da sua viagem ao Brasil em Viena, deixando poucas obras, mas muito ricas em detalhes dos eventos que ele presenciou durante esse período.

domingo, 1 de dezembro de 2019

MEMÓRIAS DE UM COLONO NO BRASIL - 1850 - THOMAS DAVATZ - Capítulo II

“O cafezal exige, não há dúvida, um trabalho apreciável.” (p.51)
Davatz traz em seus relatos o caminho árduo trilhado pelo café, desde a prestativa limpeza dos terrenos, plantação das sementes, das características de uma boa árvore e de seus frutos proveitosos, até o transporte do grão aos negros.

Como uma tentativa de simplificar e elucidar o trajeto feito pela economia brasileira, o economista e historiador Caio Prado Jr. escreve em 1970 a respeito dos ciclos econômicos, desde o início da colonização até o século XX, deixando um referencial teórico para o estudo acerca da história econômica do Brasil.
Até o século XIX, esses ciclos podem ser basicamente divididos em: Ciclo do pau-brasil, árvore típica da região litorânea, na qual, pelas mãos indígenas é que se tinha a principal extração; Ciclo da cana-de-açúcar, inesquecível pelo uso dos engenhos e mão-de-obra escrava africana; o ciclo do ouro, efervescente em Minas Gerais; e o ciclo do café, grande impulsionador da economia brasileira no século XIX e sinalado   pela entrada em massa de imigrantes para o trabalho nas lavouras, o qual Thomas Davatz dedica especial atenção em suas memórias. 
O imigrante suíço descreve em seus relatos o trabalho necessário para uma plantação vistosa que arredasse lucros festivos “Para obter uma bonita lavoura dispõem-se as mudas em filas retas e separadas entre si por intervalos de doze pés no mínimo. Com bom tratamento, isto é, com a carpa assídua do terreno, arrancando-se os capinzais e ervas, que são puxados para o redor de cada arbusto, pode o cafezal começar a frutificar já no quarto ano.” (p.50)

No caminho trilhado pelo café, haviam ferramentas como os lençóis de café, peneiras, cestas uteis ao trabalho do homem colono e contribuíam para o bom andamento da lavoura. Já a medição do café, exigia o auxílio de um membro da diretoria, que realizava as atividades de verificação, contagem e registro. Daí passava-se ao transporte pelos negros em carros de boi. 
Todavia, apesar dos cuidados na plantação, um imprevisto como o mau tempo, prorrogado por alguns dias, poderia levar a perda do sumo encontrado nas cerejas de café, acarretando uma má colheita e prejuízo notório principalmente ao colono, que já estabelecido por contrato, desta safra não recebe metade do produto líquido.

Confira agora o podcast!
O podcast de hoje é sobre a chegada do café até o Brasil e todo o seu processo desde a plantação até a exportação, também relato sobre as experiências que vivenciei no no Museu do Imigrante, que mostra desde a chegada do colono até a separação da família.
https://soundcloud.com/luizaavanci/origem-do-cafe-e-fazenda

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

MEMÓRIAS DE UM COLONO NO BRASIL - 1850 - THOMAS DAVATZ - Capítulo I


 "Perdoe-me, pois o leitor benigno se o detive longamente antes de familiarizá-los com o tratamento imposto aos colonos. Cumpre-me, além de tudo, lançar uma advertência contra a mania fútil e leviana de se fugir para outras terras. Assim sendo, devo pintar, com meus parcos recursos, o país para onde se volvem tantos anseios e aspirações."
(DAVATZ, T. Memórias de Um Colono no Brasil (1850). São Paulo: Ed. Martins, 1946, p. 70)
Livro: Memórias de Um Colono, Thomas Davatz.

O livro Memórias de Um Colono no Brasil é escrito por Thomas Davatz, que foi um suíço que veio para o Brasil em busca de melhoria de vida, onde foi contratado para trabalhar na fazenda de Ibicaba do Senador Vergueiro, mas acaba acontecendo muitas divergências entre os colonos e o senador, em relação ao trabalho que eles exerciam lá, Davatz acaba conseguindo uma licença para voltar ao seu país. Esse livro é publicado quando Thomas volta para a suíça e tem como objetivo apresentar através de depoimentos, dele mesmo, como era as condições do trabalho nas fazendas. O primeiro capitulo do livro é bem explicativo sobre as plantações, os alimentos que aqui era plantado, a culinária assim como também das estações/tempo, diferenciando as coisas daqui com a do seu país. É importante destacar a importância desse texto como fonte documental para estudos da colonização de São Paulo, mesmo sendo tão rico em informações é um livro pouco conhecido entre os estudiosos.

Nicolau Pereira de Campos Vergueiro (1778-1859),  fazendeiro de café e político luso-brasileiro.

Nicolau de Campos Vergueiro foi o primeiro a implantar em sua fazenda o sistema de parcerias que foi o que vigorou naquela época nas fazendas paulistas. No contrato colocava que os senhores pagariam as despesas das famílias imigrantes, e ao chegar aqui teriam que trabalhar para pagar essa dívida, e só após quitada é que eles passariam a dividir o lucro com os proprietários da terra. Porém, o autor elenca no texto que em São Paulo essa imigração aconteceu de forma diferente, pois os senhores acabam dando praticamente o mesmo tratamento que da aos escravos à esses homens livres, a condição de trabalho não era as prometidas em contrato, isso gera uma revolta nos colonos e a partir daí é que começa a acontecer mudanças que satisfazem ambas as partes.  

https://pesquisaitaliana.com.br/viagem-de-navio-entre-a-italia-e-o-brasil/
Navio que levava os imigrantes (mostra a quantidade de europeus que vieram para o Brasil)
A transição do trabalho escravo para o trabalho livre começa com a proibição do tráfico negreiro e com o governo barrando a expansão do trabalho escravo, os fazendeiros acabam tendo dificuldade em encontrar uma mão de obra barata para suprir as suas necessidades, com essa falta de escravos para trabalhar na lavoura começa o incentivo da imigração para o Brasil, não com o intuito de colonizar a terra mas para substituir o trabalho escravo para o imigrante, o emprego da mão de obra imigrante europeia acabou sendo a alternativa mais barata e viável para a ocasião.

Confira agora o podcast!
O podcast de hoje propõe uma discussão considerando o dia da consciência negra, refletindo sobre a escravidão e cotas raciais no Brasil, no âmbito de refletir a especialidade deste dia e a importância de ser relembrado e reafirmado!