Para a grande maioria dos povos indígenas, a
transmissão dos saberes ancestrais acontece todos os dias na convivência dos
povos nas aldeias, a grande escola de vida que prepara homens e mulheres para
dar continuidade às tradições de seu povo. Porém desde que os primeiros
europeus chegaram ao continente há mais de 500 anos, os povos indígenas que
sobreviveram ao massacre físico foram vítimas de um tipo diferente de massacre:
cultural e espiritual. As missões religiosas trouxeram novos modos de vida,
novas crenças e hábitos a centenas de povos diferentes. Os jesuítas criaram
escolas para civilizar e domesticar os índios. Até hoje, evangelistas
principalmente norte-americanos traduzem o Novo Testamento em línguas
indígenas, impondo suas crenças e modo de vida a essas populações.
Até pouco tempo, pensava-se que os povos
indígenas deixariam de existir como culturas distintas e se integrariam à
sociedade nacional. Isso começou a mudar no final dos anos 1970 e início dos
anos 1980 com a organização do movimento indígena e a Constituição. De acordo
com a Constituição brasileira de 1988, o direito à terra e ao seu modo de vida,
bem como à educação e capacitação diferenciadas, são garantidos por lei. Em
1991, a responsabilidade pela educação indígena formal foi transferida para a
Fundação Nacional do Índio FUNAI, que chegou a um acordo com várias missões
religiosas sobre a responsabilidade do MEC, e uma nova fase de resoluções e
diretrizes do governo começou a tratar dessa complexa questão, com escolas em
áreas indígenas.
Se o país já luta para educar uma população
brasileira que fala a mesma língua e vive de forma mais ou menos parecida,
imagine como seria lidar com uma diversidade de mais de 230 etnias, mais de
cento e oitenta idiomas e realidades e expectativas muito distantes. Segundo o
censo de 2008, cerca de 2.700 escolas indígenas nos 26 estados da Federação são
reconhecidas no país, com mais de 2.500 alunos matriculados no ensino
fundamental e médio. Mas como são essas escolas? onde eles estão? Como eles
estão organizados? O que esses professores e alunos querem? Até o final dos
anos 80, muitas comunidades aborígenes não tinham escolas formais e não queriam
ter uma. A percepção deles sobre a educação formal é muito negativa,
principalmente porque a educação recebida ainda está relacionada à missão
religiosa.

Muitos pais não permitem que seus filhos
frequentem a escola porque acreditavam que as salas de aula limitam as crianças
a uma idade em que deveriam estar livres e com a família e amigos para aprender
o básico da vida e das tradições. Como os professores não eram indígenas, eles
não falavam a língua da aldeia. Desconheciam as tradições, os modos de vida e
os ritmos comunitários. Esses pais temiam que seus filhos perdessem contato com
sua cultura e valores, embora acreditassem que é importante que os jovens
aprendam português e matemática para se comunicar com os brancos e proteger os
interesses da comunidade. Muitas vezes, deixavam os filhos aos cuidados de
amigos de confiança para que os filhos pudessem estudar na cidade, mas sempre
sob supervisão de familiares e idosos da aldeia.
Hoje, formar índios como professores e
gestores em escolas em terras indígenas é um dos principais desafios e
prioridades na consolidação da educação escolar indígena pautada nos princípios
da diferença, especificidade, bilinguismo e intercultural, e implementando
os fundamentos da educação como ferramenta pela afirmação étnica e promoção de
projetos voltados para a sustentabilidade das comunidades aldeãs por meio da
formação de professores indígenas. Para ensinar, é preciso ter conhecimento dos
temas abordados.
Dessa forma, é necessário que os professores não só das escolas indígenas, mas em geral tenham um conhecimento profundo dos povos indígenas, pois os livros didáticos falam muito pouco sobre os povos indígenas, a história de luta, os preconceitos, a determinação e as conquistas.
O universo educacional indígena se volta para a sua própria realidade, verificando que os professores possuem formação oferecida pelo governo estadual e que mesmo diante das dificuldades que emergem diariamente, a escola mantém um currículo diversificado voltado para a asserção étnica dos cursos, e busca por meio de mecanismos próprios, estudar ações que promovam o fortalecimento de sua cultura nativa.
Confira agora o podcast!
No podcast de hoje, vamos entrevistar Ymara (@ymaraguajajara
) que é da aldeia buritirana de Grajaú-Maranhão, aldeia dos indígenas Guajajara. Ymara faz Cinema e Audiovisual na Universidade Federal do Pará. O objetivo dessa entrevista é tentar entender a importância das escolas indígenas sob o olhar dos povos indígenas.
https://soundcloud.com/user-646364957/entrevista-sobre-a-educacao
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