Trabalharemos aqui o uso fontes imagéticas
para o ensino História indígena e afro-brasileira. Nele, discutiremos as
relações culturais, sociais, econômicas e políticas dos grupos afro-brasileiros
e indígenas. Trabalhando mais especificamente com as pinturas do artista Johann
Moritz Rugendas, que colocam em destaque esses dois grupos em meio
ao Brasil do início do século XIX.
Levando em conta o contexto da
obrigatoriedade do ensino do ensino da história indígena e afro-brasileira
para os alunos da educação básica (Leis 10.639/03 e 11.645/08). Essa
deliberação decorre de uma necessidade de conhecer
mais sobre os grupos, uma vez que eles e
seus costumes fazem parte da cultura e da sociedade brasileira. Desta
forma, a análise de imagens é uma forma muito rica de
trabalhar a história indígena e afro-brasileira. Há um grande número
de documentos imagéticos de diferentes abordagens, provenientes de
diferentes regiões e de diferentes épocas, refletindo as características
e situações vivenciadas por esses grupos. Em geral,
as vantagens do uso de fontes iconográficas
na classe vão além das possibilidades do documento
textual comum e dão maior força para atravessar o abismo que
existe entre a pesquisa acadêmica e a educação básica.
A palavra iconografia vem da palavra grega eikonographía, onde – eikon significa “imagem” e – graphía significa “descrição/escrita”;
assim, etimologicamente, pode-se dizer que é uma descrição ou escrita sobre uma
imagem. No entanto, o termo está intimamente relacionado à história da arte.
Neste estudo, escolhemos primeiramente um
recorte temporal, o século XIX, com base na produção historiográfica, sabemos
que nos primeiros séculos foram muitas as situações de representação: contato
linguístico, expedições de exploração dentro do país, mercado de produção e
circulação, o ciclo da riqueza, revoltas populares, guerras coloniais,
escravidão, etc. Desta forma, por meio da iconografia, saber se, em
determinadas imagens, alguma dessas situações surgiu como evidência histórica. Nos
concentramos aqui apenas em um pintor e algumas de suas obras, afim de
realizarmos uma análise mais qualitativa e detalhada das pinturas selecionadas.
Johann
Moritz Rugendas
Foi um pintor alemão que visitou o Brasil
duas vezes: Primeiro, como desenhista de uma missão científica liderada por
Georg Heinrich von em 1821 Langsdorff (1774-1852), pouco depois, em 1845, para
visitar um velho amigo, além disso, de alguma forma "curtir" seu
sucesso entre a elite brasileira.
Em sua primeira visita, chegou ao Rio de
Janeiro em 3 de março de 1822, e seu primeiro destino foi a Fazenda da
Mandioca, localizada no interior do Rio de Janeiro, propriedade e reduto de
Langsdorff para importantes pesquisas agrícolas. É de lá que surgem os primeiros
trabalhos sobre escravidão e trabalho livre, e a vida cotidiana na cidade. Rugendas
vê o Brasil muito além de sua flora e fauna "exóticas". Acompanhado
por todo o frenesi político no Brasil desde setembro de 1822 Assistiu a uma realidade
social desconhecida: cativeiro negro, navios negreiros, travessia desembarques
de escravos, mercados de escravos, cenas de tortura e até registros da
sensualidade das mulheres negras africanas em solo brasileiro.
Escravos de Cabinda, Quiloa, Rebola e Mina
Quatro diferentes nações compõem a prancha acima, estão representados: Cabinda, Quiloa, Rebola e Mina. Esta última se destaca pelos tatuagem em todo corpo. O negro Cabinda, cuja ilustração limita-se a cabeça também traz marcas no seu rosto. Já negra Rebolla, é a que aparenta ter mais idade. O intuito de utilizar esta ilustração é mostrar aos estudantes e discutir com eles a diversidade de povos africanos que foram trazidos para o Brasil como escravos.
Jogar
Capoeira, 1835
Rugenda apresentou a cultura de negros e
índios como minorias. Esta tela mostra uma luta de capoeira usada pelos negros
para se defender. No entanto, essa luta teve que ser transformada em uma dança
para que as autoridades não os oprimissem. A maioria dos que o faziam,
encontrava-se trabalhando em áreas urbanas, vendendo seu trabalho e os produtos
produzidos nas fazendas de seus senhores, mostra a madeira anterior, e que sua
presença nas cidades era grande, assim como no campo. Essa tela também serve
como ferramenta para o professor discutir com seus alunos sobre a cultura afro
e as formas de resistência negra na sociedade escravista brasileira.
Casa
dos Escravos
Com esta ilustração, podemos confrontar a ideia de que os escravos não tinham família, que todos os escravos estavam sujeitos a senzalas, onde eram amarrados sem vínculos, apenas liberados para o trabalho. Interessante abordamos o papel da mulher como dona de casa, falamos sobre as famílias escravas, estimulamos os alunos a terem consciência do que resta, da separação quando você vê uma mulher negra em um barraco e a Senhora da casa grande que é a proteção da peito de sua luxuosa casa. Através da obra discutirmos em sala que não era apenas a luta ou a fuga uma forma de resistência, mas havia certos "direitos" que eram obtidos através da luta, greves de fome, negociação e resistência. Entre esses direitos estão o direito de ter casa própria, folga ou fazenda para morar e, além disso, ter uma forma de obter sua liberdade.
Rua Direita, 1835
Nesta obra podemos ver o fluxo comercial na
cidade do Rio de Janeiro. Os negros fazem vários trabalhos como carpintaria,
sapataria, alfaiataria e até mesmo trabalham como marinheiros e vendas em
geral. Esses negros que iam para as cidades eram obrigados a vender seus
empregos ou produtos agrícolas para conseguir dinheiro em troca. No entanto,
esse dinheiro foi destinado ao seu senhor, o escravo possui uma pequena parte
desse capital. Ou ainda, muitos eram livres para vender seu trabalho na cidade,
sob a condição de pagar uma certa quantia em dinheiro ao seu senhor. Foi com essa
renda que, muitas vezes, poucos conseguiram comprar sua liberdade.
Negras do Rio de Janeiro
Importante expormos imagens
com a presença de mulheres nesta obra, vemos duas mulheres negras fazendo
transação envolvendo a compra de adereços femininos. A que está em pé,
comprando - uma negra vendedora de frutas - carrega filho às costas à maneira
africana. A prática de carregar filho às costas era bastante disseminada na
África e em toda Afro-América. Ela permitia à mulher negra - cuja família
muitas vezes era composta por apenas mãe e filhos - ter mais autonomia em
suas atividades cotidianas.
De fato, a história contada através da
iconografia nos traz muito sobre a cultura e o modo de vida, tanto dos escravos
quanto da aristocracia brasileira do século XIX. Dessa forma, eles nos ensinam
que uma obra de arte, não importa o que seja, é um texto que pode ser olhado em
sala de aula, e interpretado de acordo com os valores e a moral da época em que
foi produzida, pois acrescenta outro ponto de vista. Podemos concluir que
Rugendas mostrou formas, beleza, cultura, trabalho, entre outras categorias, à
sua maneira e que contribuiu à sua maneira para a preservação da memória e da
história do Brasil.
Confira agora o podcast!
No podcast de hoje vamos entrevistar a Professora da rede Municipal de ensino de Marilena, Irah de Assis, que é uma ativista do movimento negro da região. Falamos sobre a aplicabilidade da lei 10639/2003, sobre a importância das cotas raciais e também sobre alguns eventos realizados em Marilena que ela esteve a frente.
https://soundcloud.app.goo.gl/Apcf1zk2zUdH8uwH6
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